Três corpos, uma mesma fronteira: Perspectivas de tempos e existências nos deslocamentos pelo sul global
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Resumo
Este artigo propõe uma reflexão sobre espaços e temporalidades, a partir da morte de três crianças e um adulto às portas das fronteiras durante travessias causadas por deslocamentos forçados. As imagens dos corpos de Alan Kurdi, Mohammed Shohayet e Angie Valeria e seu pai Óscar Alberto Martínez Ramírez nos apontam para a coexistência de espaço e temporalidades a partir de distintas fronteiras. A análise deste trabalho perpassa pelas fronteiras da Turquia com a Grécia, de Mianmar com Bangladesh e dos Estados Unidos com o México, espaços em que as mortes ocorreram. Nesse sentido, propõe-se que as imagens ecoam outas imagens a partir de uma mesma estrutura que leva à morte as pessoas que se arriscam em busca de um lugar seguro para viver. São imagens que evocam as mesmas vicissitudes enfrentadas cotidianamente por quem se desloca de maneira forçada, especialmente quando tratamos de corpos de sujeitos do sul global, e que se reproduzem dentro de uma mimese que representa os mesmos tempos e espaços e, também, outros corpos. Estas imagens simbolizam a era dos deslocamentos forçados a partir do sul global, em que as fronteiras são, nesse sentido, aparatos de controle que impedem jornadas seguras e que matam pessoas. Tem-se na contemporaneidade o aumento significativo de deslocamentos forçados que, embora sejam um problema global, são um fenômeno que está catalisado no Sul, tanto em relação aos países que forçam pessoas a se deslocar para se tornar refugiadas quanto aos países que as acolhem. Desta forma, os deslocamentos forçados nestes últimos anos nos trouxeram algumas reflexões sobre visibilidade e imagens que se entrecruzam a partir de uma territorialidade, seja ela instituída pela experiência midiática como acontecimento ou pela própria experiência dos corpos que inscrevem suas próprias narrativas, suas próprias imagens.
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